terça-feira, 24 de março de 2009

Relatório da visita de estudo (um pouco atrasado...)

No dia 19 de Fevereiro pelas 15horas juntou-se uma multidão na rua da Betesga. Era o 12ºA numa visita de estudo, mas não uma qualquer, era "a" visita de estudo à Lisboa Pessoana.
Como já disse, começámos pela rua da Betesga apresentando a Firma "Lima Mayer & Perfeito de Magalhães" onde trabalhou Pessoa.
Seguimos para o Rossio onde falámos sobre o café "Áurea Peninsular" (no qual entrámos para dar uma espreitadela a um quadro sobre Pessoa), visitámos a tabacaria Mónaco (esta ficou-me marcada na memória devido ao seu dislumbrante teto), passámos pelo sítio do antigo café "A Brasileira" (cujo lote se encontra actualmente ocupado para outros fins) e fomos até à Estação do Rossio.
Logo ali pertinho, na praça D João da Câmara, entrámos no restaurante "Leão d'Ouro" cujo tinha uma réplica de um quadro alusivo a Pessoa, ao conjunto Orpheu.
Subimos até ao Chiado e seguimos até lá acima até ao Convento do Carmo onde fomos dar à parte superior do elevador de Santa Justa (digo, desde já, que tem uma vista lindíssima lá de cima).
A partir de aqui já estava completamente estafada e já não ouvia (quase) nada do que os professores diziam e do que os meus colegas apresentavam.
Seguimos depois para o Largo Camões onde falámos sobre a actual "A Brasileira", o famoso café onde Pessoa parava muitas vezes. Este até tem uma estátua em sua homenagem, Pessoa sentado a escrever. De seguida fizémos uma pausa (mas sem Kit-kat... estava a brincar) nas escadas da Igreja dos Mártires, onde Pessoa foi baptizado (a pia baptismal ainda lá reside).
Entretanto no Largo de São Carlos decidimos cortar caminho pois não daria tempo de ver tudo. Fomos até à Faculdade de Belas Artes e descemos até à rua da Assunção para depois "desaguarmos" na Praça do Comércio. Lá, visitámos um restaurante que Pessoa frequentava várias vezes (cujo nome não me recordo) e que tem, ainda, a mesa onde Pessoa almoçava/jantava. Tem, em toda a extensão de parede, um vasto reportório de quadros e recortes de jornal sobre Pessoa.
Fomos também a uma galeria (também já não me recordo bem) algures nas arcadas.
Prosseguimos pela rua do Ouro e fomos falando de algumas firmas que ali houveram onde Fernando Pessoa trabalhou. Parámos junto da rua dos Fanqueiros para algumas apresentações finais.
Entretanto, como já era de noite, estavamos todos a pender para o sono e cansados. Fomos para casa.

sábado, 7 de março de 2009

O ciclo da água



A água, tal como todos os elementos, vai, e volta.
Não sei bem como começar, se pela chuva, se pelo mar. É como a tal história: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?
Mas, como todas as histórias têm um princípio, vou começar por onde achar mais conveniente, pelo mar...
Era uma vez, uma grande família de pequenas gotinhas de água que viviam num mar qualquer. Viviam em constante viagem, e, de vez em quando, desencontravam-se umas das outras! Um dia, numa mudança, subiram em forma de minúsculas gotículas de água até ao céu (a condensação), formando grandes e extensos aglomerados de minúsculas gotículas de água, formando, assim, as nuvens. Estas, com a ajuda do elemento ar, deslocam-se, umas vezes em grandes distâncias, outras apenas em pequenas distâncias. Quando isso acontece, a família das gotinhas volta a formar-se em pequenas gotinhas de água e cai até à terra, sob a forma de chuva, granizo ou neve. Aí espalha-se, perde-se pelos mais ínfimos buraquinhos no solo. Algumas infiltram-se na terra, outras, entram pelas sargetas adentro e caem pelos canos de esgoto. As da terra, vão dar aos lençóis de água onde se encontram mais familiares (na minha opinião o segundo lugar onde a água é menos poluída), que por sua vez desaguam num rio ou no mar. As do cano de esgoto, vão dar a E.T.A.R.'s, levam um banho de químicos, são tratadas e, por fim, são novamente libertas para um rio ou mar. Aí, podem, então, recomeçar o seu ciclo...
E é assim o ciclo da água, um tanto igual ou diferente a outros ciclos da vida...

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê tudo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a tua toda
Brilha, porque alta vive.
Ricardo Reis - Heterónimo

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Lágrimas

Lágrimas que tenho chorado a vida inteira,
Às vezes na emoção da alegria incontida,
Lágrimas que jorram da alma incompreendida
Daqueles que têm a dor por companheira.

Lágrimas que tanto marcam as nossas vidas...
Lágrimas de felicidade ou de dor pungente...
Quantas vezes derramei o pranto ardente
Na dor dos adeuses na hora das despedidas.

Lágrimas que lavam a alma de quem chora,
Lágrimas que em minha dor derramo agora,
Oh! Quem dera estas fossem as derradeiras...

Feliz aquele que a sua lágrima derrama...
A lágrima é o símbolo da redenção humana,
Jesus também chorou no Horto das Oliveiras...

lágrimas - poesia oculta


Sempre tive medo
De me perguntar
Se a vida era só
Uma lágrima
Uma lágrima que molha o papel
Ou somente uma nuvem que some no céu

Então a resposta veio
Sem eu perguntar
Em seus olhos eu vi um brilho
Eu parecia me chamar

E dizia com uma voz doce
Que tudo isso um dia vai passar
Mas então um dia
Esse brilho desapareceu
E junto com ele
Também se foi o brilho meu
E até hoje
Não consigo aceitar
Que a rosa mais bonita
Não quer me perfumar
Tudo porquê você achou
Que podia me amar
E na mesma noite
Me abandonar
Você sabe que o seu sorriso
Pode me hipnotizar
E fazer de mim o que bem pensar...

Paisagem de Chuva

Toda a noite, e pelas horas fora, o chiar da chuva baixou. Toda a noite, comigo entredesperto, a monotonia líquida me insistiu nos vidros. Ora um rasgo de vento, em ar mais alto, açoitava, e a água ondeava de som e passava mãos rápidas pela vidraça; ora com som surdo só fazia sono no exterior morto. A minha alma era a mesma de sempre, entre lençóis como entre gente, dolorosamente consciente do mundo. Tardava o dia como a felicidade - àquela hora parecia que também indefinidamente.Se o dia e a felicidade nunca viessem! Se esperar, ao menos, pudesse nem sequer ter a desilusão de conseguir.O som casual de um carro tardo, áspero a saltar nas pedras, crescia do fundo da rua, estralejou por debaixo da vidraça, apagava-se para o fundo da rua, para o fundo do vago sono que eu não conseguia de todo. Batia de quando em quando, uma porta de escada. Às vezes havia um chapinhar líquido de passos, um roçar por si mesmos de vestes molhadas. Uma ou outra vez, quando os passos eram mais, soava alto e atacavam. Depois, o silêncio volvia, com os passos que se apagavam, e a chuva continuava, inumeravelmente. Nas paredes escuramente visiveis do meu quarto, se eu abria os olhos do sono falso, boiavam fragmentos de sonhos por fazer, vagas luzes, riscos pretos, coisas de nada que trepavam e desciam. Os móveis, maiores do que de dia, manchavam vagamente o absurdo da treva. A porta era indicada por qualquer coisa nem mais branca, nem mais preta do que a noite, mas diferente. Quanto á janela, eu só a ouvia. Nova, fluida, incerta, a chuva soava. Os momentos tardavam ao som dela. A solidão da minha alma alargava-se, alastrava, invadia o que eu sentia, o que eu queria, o que ia sonhar. Os objectos vagos, participantes, na sombra, da minha insónia, passam a ter lugar e dor na minha desolação.

Bernardo Soares - Heterónimo

Bernardo Soares - o 4º heterónimo

Tinha 30 anos, alto, curvado ao se sentar, algum desleixo no vestir. Cara pálida, com sofrimento diluido. Era ajudante de guarda-livros em Lisboa e frequentava os restaurantes da Baixa, nas sobrelojas, onde encontrou Pessoa falando-lhe da sua admiração pela revista Orpheu. Fumava. Tinha um especial interesse em observar aqueles que o rodeavam. Levava uma vida suave, de afastamento, de entrega ao sonho. O Livro do Desassosego, não é dele, mas é ele próprio.

De Prefácio, O Livro do Desassossego